Sou Outro Você

Friday, December 30, 2005

Peregrino


O que importa não é a quantidade de caminhos, é o caminho, a caminhada, corpo vai a diante, sempre em frente, brilhando todas as estrelas no céu.

Cuida guia, ilumina, um pé depois outro, organismo perfeito que se sustenta ereto, veículo divino embalando alma estudiosa, moro na escola.

Descendo morro um pouco, lá maior a majestade vem, varrendo o tempo do firmamento até o chão astral, onde a brancura é quem governa, em seu trono imperial.

Filho Rei da Virgem Mãe, assuma o mundo porque ele é teu, te devolvo o empréstimo, e se desejar sigo ao teu lado, se for do meu merecimento compartilhar de Sua Presença. Quero ser teu espelho, Irmão, reflete em mim...

Wednesday, December 28, 2005

As crônicas do Alê Bebê. O berço, o bico e o cavalo.

Quando vim ao mundo bem sabia o que me aguardava. Cheguei aqui e esqueci. Até isso estava dito, que não lembraria...
Naquele tempo, ainda purim de mim, interessava por coisa pouca. Mal falava. Bico é ótimo poupador de palavras. Por isso somos nós os bebês que os usamos, pra nos resguardarmos da tagarelice dos tempos futuros. Sustentamos alguma sabedoria assim, cavalgando terras estrangeiras no vidro de shampoo incrivelmente desenvolvido na forma de cavalo. Sugando saliva ainda tento imaginar de quem terá sido essa brilhante idéia, a perfeição plástica do objeto me encanta, como fazer isso com as mãos é pergunta que não cala enquanto desenrosco a cabeça do animal; mas logo sou proibido de degolá-lo, há dentro um líquido que não deve escapar. Prefiro continuar viajando pelo novo país que se apresenta. Meu berço. Fui aguardado durante tempos para habitar esse lugar. Criado e praparado justamente para me receber, ali sou príncipe e devo honrar essa posição aceitando o que me é proposto e servindo meu povo.
Passarei a vida ostentando realeza por pura falta de decoro, batendo o pé e chorando, quanto mais alto mais rápido, tenho tudo que quero... Me especializo em gritos falsos de dor... Se tornarão verdadeiros mergulhados na mentira.
Mas meus cabelos alcançarão os ombros e minha barba engrossará. Aí eu volto ao meu lugar. O mesmo anterior à foto.

Ô Pôrra!


Tira essa foto já, pelo amor de Deus! Ou então não me obrigue a sorrir dessa maneira, nem sustentar essa pose ridícula por mais nem um segundo sequer... Estátua é o cacete! Isso me desanima, poxa! Acaba com meu humor. Depois você me pergunta porque é que desequilibro... É claro que desequilibro! Toda hora você abre a lente dessa câmera pra tirar uma foto genial e quer todo mundo esteja alegre e satisfeito pro domingo parecer perfeito... Não fode, vai!? Chega! Agora chega, essa é a última. E quer saber do que mais, o pior eu vou dizer agora, que é pra acabar de vez com essa palhaçada. Só eu te dou ouvidos, sabia? Todos te ignoram sempre. Eu, que te amo tanto, que te quero tão bem, não sou capaz de lhe dar as costas, mas todo o resto... Ó só... nem aí... viu?! A Fê com a máquina dela viajando, o Flávio e a menina conversando... Pode ver nas outras também se quiser, ninguém aguenta esperar o momento exato do seu click...
Ai, tem alguma coisa estranha na minha boca...
Passa logo esse baseado, ô pôrra!

PERPENDICULARIDADE


Meio eu com uma sombra no braço. No fundo perpendicular. Olho riscado à lápis preto acentua profundidade no ser que se percebe em parte. Esquerdo. Canhoto. Me endireito no momento seguinte, quando voltar a ser inteiro, não só de corpo, este apenas reflete o interior. A outra parte, mais de dentro, é que me cabe achar e ter certeza. Trazer-me de volta à tona em totalidade. Desabrocho o botão da alma em flor. Viro um enrome girassol, vida que me identifica essencialmente. Encontro a irmandade sagrada e traduzo nomes. Eu, Alexandre, defensor dos homens, hoje sou nada além deste significado, que me orgulha e manda agradecer tanta beleza no Céu das Estrelas. Minha Igreja querida que me chamou. Meu corpo é o templo. Eu, a morada de Deus.

IRMANDADE


Elfos admirados no Alto Superior. Seres elementais em parceria no caminho da Luz... convocando o silêncio das forças maiores. Os guardiões do planeta responsabilizaram-se não só pela manutenção de suas belezas - divertem-se organizando flores por cores, árvores em bosques, redirecionando rios, chovendo nos campos, embalando bebês de todas as espécies... isso é uma grande brincadeira entre eles - mas principalmente pelo perfeito funcionamento de toda a natureza. Nenhum de seus movimentos é em vão. A garantia da eterna juventude deste engenhoso sistema está dentro do equilíbrio revitalizado em cada nova ação libertadora. Antes de qualquer ocupação, qualquer decisão, há a entrega, aceitação. Estão num barato tão grande que nem sei se pensam, simplesmente são... Entre eles não há pequenos desejos egóicos. A vaidade não desvia a atenção do que lhes é caro e raro. As superfícies dos seres não são tidas como objetos de adoração, mas sim de contemplação. Amam a criação, mas não a possuem. Existem através dela e só. Passam... Servidores do Grande Plano Universal. É assim que são chamados lá de cima.

Closer

Perto demais. Meio torto. Esquisitíssimo! Assim é que sou e é assim que me sinto. Mais junto do que eu mesmo impossível. Sou bom pra dizer sobre as coisas da minha pessoa. E nem digo... Acompanho-me desde o início, totalmente dentro da história, mas por hora tô fora, não me misturo comigo agora. Trago-me à razão, elevo compreensão. A tensão distanciada da forma estranha, veicular nodosa, encontra belezuras pra descansar em paz. Mas nada consta. Só ri de mentira... Hoje me considero muito menos do que em outros tempos. Descaracterizo aos poucos, dócil e calmo como nunca. Tiro o excesso, perco sentidos, significados... Breves ataques ainda me acometem. A rebeldia conta com seus dias finais... Medito no tempo e temo o fim. Tremo diante dos termos, contrato o que mais quero pra mim.

O olho na lente, sem lente no olho...


Dispenso artificialidades enxergando perfeitamente. Desfoco a visão quando preciso. Assisto míope o fracasso de minha desumanidade, de longe não participo, apenas observo, e assemelho ao que meu irmão tem de mais bonito. Em cada beleza um caminho.
Já cuspi na lente antes. Reneguei o presente de um trabalho honroso e prazeiroso achando-o sujo demais para minha nova busca. Sujo só eu mesmo, meu Deus, precisando de um esfregão, balde e água com sabão pra aprender a fazer espuma num chão imundo diário, eternamente, enquanto eu limpo um outro estraga, e recomeço e passo o pano.
Vim para servir e aqui estou. Diante dos Teus Olhos, que tudo vê. Agradeço as mordomias todas com as quais me agraciastes. Espero fazer por merecer sendo eu o mordomo agora, o garçom, neste ramo eu tenho experiência. Já servi pizza, hamburgueres e pratos finos. Derramei coca-cola e abri vários vinhos. Sujei vestido branco de shoyo e tomei banho de whisky. Bebida de caráter... tinham dito.
Hoje tomo Santo Daime e entrego a vida no Amor Maior. Façai de mim o que quiser, Senhor. Tenho fé nos teus planos, confio em teu julgamento, aceito o que vier de coração. Tenha minhas duas mãos em Tua Obra. E meus dois pés no chão da Tua Criação.

Eu Antigo


Eu antigo no Rio.
Riso velho de menino.
Esperança de ferro.
Seguro firme no portão azul do céu.
Nas costas trago lanças (as asas me foram arrancadas, neste mundo só permitem armas). Voar virou provilégio de passarinho e de outros seres encantados que flutuam.
Os espíritos humanos desencarnados, em sua maioria mortos, não tiram os pés do chão (eu, ainda vivo então, nem pensar). Apegados aos seus corpos em decomposição celebram a perdição de suas almas. O inferno é um paralelo apenas, construído aqui. Os nós apertam os calos que pedem por sapatos mais chiques e caros, vão andar em seus carros importados poluentes, fumar os cigarros de marcas maiores doentes... Devoradores das carnes. Assadas e nuas. Até cruas, dependendo da cozinha. Canibal é aquele que se alimenta de qualquer animal. Assassino também é quem compactua. Estupramos a Mãe Natureza antes de vender seu corpo maculado ao inimigo. Arrancamos seus cabelos enquanto estocávamos por detrás. Arrombamos os corpos de Deus. Eu, arrependido, não me canso de pedir perdão. Sozinho, tento me encontrar nos abraços. Purifico-me abandonando tudo que não é saúde. Em silêncio construo minha fortaleza.

Em São Paulo não chove passarinho

Ligados intimamente por toda a eternidade, separados em corpos distintos perdidos na grande cidade. O mesmo amor que nos uniu os separa agora. Talvez exista um morto nessa história. Talvez dois, ou até mais... É bem possível que sim. Muito provável ser assim quando dor demais é guardada. Na ignorância sofrida de cada um o invisível perde-se no material concreto duro, só no outro vislumbra-se uma nova chance, ele que é o mesmo de antes, anterior a si próprio, e a mim também, um outro eu, o segundo...
Minuto, hora, dia, mês... anos, décadas, centenas de milênios...
Assassinato também é suicídio, não sabia?!
Só os pássaros brincam na chuva grossa que cai lá fora, além da janela fechada. Amam a tempestade assim como o Sol. Não sofrem porque não pensam. E assim, livres da prisão maldita em que nos encarceramos, escolha própria nossa, voam inocentes uns buscando os outros, professores de si mesmos, e de nós todos.

MORTE É PROCESSO DE VIDA, OU AO CONTRÁRIO...?

Me reinvento a cada novo nascimento. Amo os processos de morte. Vivo-os. E deixo-os... Não prendo a respiração por muito mais tempo. Quando inspiro fundo experimento o mundo pela primeira vez. Viajo longe, até onde a verdade me quiser levar. Descubro um pouco mais meus olhos. Com os dois físicos toco o imaterial. Com o terceiro, universal, alcanço passado e futuro no presente. O milésimo de segundo expandido desde os extremos... Recebo um novo nome: Amyano. Descubro outro e uno ao cósmico: Amando. Amyano Amando. Alexandre Amyano Kirchmayer Amando Heser. Tô virando frase inteira!
Deixei o teatro, cansei de mentir para os outros. Agora minto nem pra mim. Preciso de vida desprendida. Reciclo. Transcendo a dimensão da identidade antiga. Cópia mal feita de nenhum vôo doméstico. Pra onde vou não te preciso, farsa bandida. A original me espera. Então aguardo-me...
Dançando me embalo em sono de menino que insoneia. Quer dormir mas não pode mais. Acordou sem chance de voltar. Me embebedo e bato papo só sobre o que quero. Descubro entorpecido que a Terra também tem coração. Sua energia me dá força e saúde. Serei-lhe eternamente grato, minha mãe Gaia. E que eu não tire os pés do chão.

Um Girassol



Vamos começar os trabalhos, minha irmã. Vamos trazer as flores. Um jardim imenso colorido de flores. Eu quero um jardim de girassóis pra eu cuidar. Amo este novo lugar. O de agora já gostei menos. O que ele é naturalmente me encanta. O que se transformou em construção e relação não me interessa. Quero a verdade. Vou buscá-la esteja onde estiver. Quando me encarar saberei. Serei! Ainda estou em partes... flashes de memória cósmica. Sei da força do meu despertar. E que eu não adormeça jamais.

Anexos

Ele intraterreno.
Ela planetária.
Ambos extraterrestres.
Assemelhados na mistura das raças.
Distantes de si mesmos.
Amnésia programada antes da vinda.
No caminho de volta pra casa um lampejo da verdade.
Seguem um ao outro sempre sem saber.
Ele vai de metrô.
Ela a pé.
Em algum momento fora da realidade se cruzam, mas não se importam, porque não se enxergam. Mundos escuros e solitários esses. Ninguém se encontra neles.
Ele, triste e inacabado. Ela uma palhaça arrependida.

Comer e Descomer

C.L.P.P.D.A.

Necessidades físicas básicas: comer e descomer. Obrigatoriamente nesta mesma ordem. Embora, às vezes, isso possa acontecer ao contrário. Já comi muita merda... Mc Donald's me serviu de prato principal durante anos. Assim que saí de casa, primeiramente indo para o Rio, fazia duas refeições diárias. No almoço um número 1, Big Mc, dois hambugueres alface queijo molho especial cebola picles num pão com gergelim, mais batata mais refri de meio litro, Coca, sempre Coca, mais um cheeseburger pra forrar bem, e à noite uma outra promoção qualquer pra variar; Cheddar era a segunda opção preferida. Ia no concorrente a contra gosto, quando estava cansado, era mais perto de casa. Antes de dormir, na madrugada de larica, rolava também um desses hotdog's podrões de esquina. Sou um especialista. Além de Doritos Nacho, com...? Coca-cola. O refrigenate nunca variava. "Coca-cola é vida", costumava dizer. Depois de praticamente seis anos nesse esquema fui pra São Paulo e, com o organismo totalmente viciado, mas com alguma sabedoria a despertar, a partir de um desejo louco de me amar e curar, uma necessidade absurda de ingerir coisas limpas, passei a usar apenas uma vez ao dia o fast food. Fui deixando o Mc e me aproximando do Bob's, uma paixão adolescente, quando a pré-obesidade chegou à minha vida.
Traumatizado com a lembrança dos quilos extras que carregava naquela época, logo larguei a droga que engorda a gente. Carrego o peso de um corpo só, o meu, e de mais ninguém...!
Hoje, limpo há seis meses, resolvi deixar aqui o meu depoimento pra você, que como eu já comeu merda à doidado, e ainda come, desacreditado em si mesmo... Junte-se a nós!
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Os "Comedores de Lixo Por Dentro Anônimos"