Sou Outro Você

Thursday, November 16, 2006

as mãos vazias

Sim, me veste bem, na medida... Feito luva mesmo.

Mas agora me faltam dedos para usá-las (as luvas), decepei-os... as mãos vazias... Nem os dos pés poupei. Já não caminho, arrasto-me. O apoio foi-se embora pelo ralo, equilíbrio perdido de mim, abandonado. Junto às fezes, a rala diarréia, desço líquido e turvo descarga abaixo. Na veia que o Rio escorre esgoto em direção ao mar... Um canal de restos humanos. A constância se fez confusão e o corpo já não vibra superior. Caiu por terra.

Põe vírgula quando achar o final, deixa a frase aberta, descansa o ponto... Ou faz reticências... Ponto não! Não acabou.

A alma lanhada chora a dor do desengano. Menino acuado, cheio das feridas abertas. Não cicatrizam.

Engulo seco. Sofro calado. Vontade de viver mais feliz. Vontade de ir sei lá pra onde, talvez um lugar escondido, secreto, só nosso. Inventa esse lugar, me conta que eu vou pra lá, te esperar.

E me perdoa a loucura. Não me quero mais viver assim. Doente de amor... doente.

templo de sonhar

Eu tô ficando. Digo até que já fui, mas não vou mais a lugar nenhum.
Digo um tanto de coisa sem querer...
Faço tudo ao contrário, a fé falha, me justifico, absolvido em vão, porque não me salvo. Ilusão!
Eu que já não minto nem pra mim! Não me engano.
Existo oposto a quem me tem amor. Virei as costas ao mundo, achei que assim seria melhor. Atirei pedras ao templo, atinji o deus interior, o mais santo e puro eu ferido por minhas próprias mãos.
Medo do abandono, medo de estar só...
Preciso ir fundo agora, na profundidade anterior a do não ser... Preciso do ser de antes do não ser... Preciso saber como, e se devo. Se mereço. Continuar ou embarcar na viagem de volta? Antecipar a passagem...
Vou dizer quem sou, o que fiz de mim e o que deixei que fizessem, devolver ao mundo essa tentativa fracassada de ser humano, encaminhar o que restou de desejo e iluminar o corpo, recriar a vida, a alma precisando de trato, cuidado delicado, cura.
Vou sonhar de novo, um novo sonho, um que acabo de escolher, ou de me lembrar, um sonho de evolução, um sonho onde o mundo silencia, e é todo paz, amor e harmonia. De dentro pra fora. De fora pra dentro. Em toda parte só há verdade... o amor é a verdade.
Aceito o convite. Seja feita a vossa vontade. À nossa boa sorte!
Lindo dia lá fora. Céu azul infinito... esperança renovada nos olhos claros de minha mãe Marlene. Encontro luz. No fim de tudo recomeço. Outra chance me apareceu... O chamado ecoando. Vim relembrar como se renasce. Antes morro de novo, mais uma vez. Vejamos então como se faz...

Saturday, November 11, 2006

da boca pra fora

Espelho dágua
Azul cristal
Claro invertido

Da boca rara
Oposto ao céu
Fundo de riso

Cama de língua
Escrevo inverso
A mão contrária

Salvo palavras
Lanço as certas
Tão loucas falas

Degusto o gosto
Lambo o corpo
Seio de mim

Me olham tantos
Olhos vários
Todos me vêem

Além da dor
Dentro só nós
Todos seus eus

Atrás do escuro
Em outro mundo
Mora meu Deus

Moço bandido
Vem comigo
Cantar em casa

Na nossa voz
Solto a canção
Insana bênção

E te ilumina
Vida minha
Uma oração

Bendito dom
Força divina
Da criação

Thursday, November 02, 2006

UM RESTO DE MIM

Acabei de chegar em casa às cinco da manhã.
Estou morto! Acredite. Morri.
Eu sou a morte, e quero viver o que me resta até o último respiro.
Às últimas consequências.
Suspiro profundo, e depois vou-me embora.
Por enquanto estou aqui, e estou morrendo.
Meu corpo está vencendo. Prazo de validade prestes a expirar.

Vc quer intimidade, vc quer minha amizade...?!
Te dou de verdade. Estou morto... EU SOU A MORTE. Muito prazer.
Não tenha medo, não vim buscar você. Sua hora é outra. A minha é essa.
Nu, sem flores a cobrir meu corpo. Exposto em vida.

Cigano bandido! Me roubou! Me perdi.

Jorro sangue imundo da boca pra fora.
Vomito a veia e tudo mais.
O pulmão já não é o mesmo; é passado esquecido.
Funciona esbaforido, esfumaçado. Escarro o cigarro maldito.
Cuspo verde escuro e vermelho intenso.
Os rins também estão abandonando a função.
Deixaram o barco furado. Cheio de pedras.
Afundando sei que aprendi a nadar um dia, bem cedo, mas esqueci como se faz. Tenho medo do que a vista não alcansa..
Desesperado agito os braços e as pernas para não naufragar.
Alcanso a falsa margem do rio. Não sei ser coragem nessa hora. Covarde sim! Sou um covarde agora!
Me rendi. Entreguei-me aos anjos caídos que me tombaram.

Sinto frio.
O sol exposto já não me toca.
A água gelada me apavora a alma.
Finjo e esqueço a que vim.
Me diverti, isso não posso negar. Hahaha!!!
Mas quem é esse que diz? Sou eu, ou o outro a me levar pra cova?
Somos nós. Eu e você. Te aceito meu assassino.
Enfia a faca no peito. Ou no ventre. Ainda caminho apunhalado, a arma afiada no seu lugar preferido.
Escolha!
E eu escorro qualquer coisa amarelada, podre, pus. Ferido por dentro. Do lado de fora é só resto. Um resto de mim...