Wednesday, December 28, 2005

Eu Antigo


Eu antigo no Rio.
Riso velho de menino.
Esperança de ferro.
Seguro firme no portão azul do céu.
Nas costas trago lanças (as asas me foram arrancadas, neste mundo só permitem armas). Voar virou provilégio de passarinho e de outros seres encantados que flutuam.
Os espíritos humanos desencarnados, em sua maioria mortos, não tiram os pés do chão (eu, ainda vivo então, nem pensar). Apegados aos seus corpos em decomposição celebram a perdição de suas almas. O inferno é um paralelo apenas, construído aqui. Os nós apertam os calos que pedem por sapatos mais chiques e caros, vão andar em seus carros importados poluentes, fumar os cigarros de marcas maiores doentes... Devoradores das carnes. Assadas e nuas. Até cruas, dependendo da cozinha. Canibal é aquele que se alimenta de qualquer animal. Assassino também é quem compactua. Estupramos a Mãe Natureza antes de vender seu corpo maculado ao inimigo. Arrancamos seus cabelos enquanto estocávamos por detrás. Arrombamos os corpos de Deus. Eu, arrependido, não me canso de pedir perdão. Sozinho, tento me encontrar nos abraços. Purifico-me abandonando tudo que não é saúde. Em silêncio construo minha fortaleza.

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