Sou Outro Você

Sunday, February 26, 2006

O véu que vai com o vento...

Ando pela rua rasgando peito como quem num último ato de coragem se agride enquanto grita: atira! Atira! A vontade de seguir a diante é a mesma que me empalidece a cara e afunda a visão na escuridão. Não há mais o que temer. Em meu corpo deuses e monstros cantam e dançam em nome do prazer que é estar vivo. Através de mim eles existem. Me dão livre acesso no céu e no inferno. Consagro a união comungando bem e mal. Faço a ponte, sou elo de ligação, encaminho os anjos caídos, faço-me passagem de volta pra casa. Lugar nem tão distante quanto imaginava. Pois se estou aqui permaneço lá. A origem celestial me determina. Minha consciência uma experiência divina. Compreendido isso não há mais dúvidas sobre o dever. Simplesmente ser, servindo luz, o que sempre soube, entrando em acordo com aquele que fui quando esquecido de mim cedo o lugar de comandante da embarcação carnal ao seu único e verdadeiro Capitão. Ele é quem me guia. Tudo o que vivi inocentemente preparava o dia de escrever. Os aliados eu enxergo de longe. Nos entendemos sem palavras. Sabemos que já nos conhecemos e isso nos basta. Estamos juntos desde a hora final. Em cada braço a força certa do resgate. A firmeza no abraço. A certeza do amor no perdão.
(em desenvolvimento)

Friday, February 24, 2006

INTOCÁVEIS OLHOS CEGOS FINGIDOS

A distância que se fez desde o último toque não me abala mais. Se é que posso dizer que em algum momento perdi a ordem... Sinto um pouco, apenas. Ou senti. Agora nem isso... mais uma vez o vazio. Aqui me esbaldo. Um farto da paz e da tranquilidade. Me admiro sem louvores. Longe da ilusão da tua ilusão. Observando.

Uma agressão, seja ela de qual natureza for, nasce dentro do dito agredido, sempre! Um soco na cara vindo de uma outra pessoa - deve haver quem se agrida dessa maneira, socando-se, não sei, mas deve ter - nasce dentro de si mesmo, o tal nocauteado é o provedor maior. Não o homem que o empunha apenas, mas também, e principalmente, o que recebe. É uma projeção de imagens, dessas comuns, que nos acostumamos a ver no cinema, por exemplo. Pode parecer maluquice, e é, porque é assim que as coisas são, muuito doidas e sempre espelhadas, e nunca, nunca inexplicáveis ao ponto da total incompreensão.

A ignorância é uma lástima em homem crescido.

Resumindo meu comportamento social quando me sentia ofendido em cada uma das respectivas fases da vida digo que na infância ficava de mal, na panela do mingau come sal, na adolescência eu descontava nos meus pais - rebeldia de quem se enjeitava diante da vida, que havia escolhido antes mesmo de ter nascido, só não se lembrava inteiro ainda - e quando adulto, custou, mas resolvi crescer e saber com a agravidade de quem aceita a vida assim como ela é que não sou vítima de um mundo cruel, que colho aquilo que planto, e agradeço a Deus cada verdade oferecida, e mesmo não tendo o direito de dizê-la, faço o que não devo aqui, em minha escrita, a espada afiada, oferecida como instrumento na batalha.

Não existe diferença entre nós, meu querido. Existe sim o endeusamento que fazemos de nós mesmos; você no teu desaparecimento relâmpago, como uma estrela que projeta a falsa morte e desaparece sem deixar vestígios, a grande dama do teatro brasileiro, intocável e poderosa, cansada de tanta fama e tanta glória, e eu no meu orgulho de homem novo, humano e menino demais pra saber do julgamento que não te fiz, livre pra ser prazer em toda dor, e até rir do amor não correspondido. Não o reconhecemos quando ele acontece porque estamos distraídos demais com nossas questões existenciais, voltados ao nosso tão estimado e bendito umbigo.

Vá pra frente do espelho e veja se te lembra como se sorri. A manifestação na boca é sua expressão mais superficial. Imagina só, e deve saber muito bem, a quantidade de músculos trabalhando nessa hora. Quem dá ordem à isso? O cérebro? Quem dá ordem ao cérebro? A alma? Quem dá ordem à alma? O espírito? E o que é espírito, alma, como funciona o cérebro, quem é você...? Um doutor de quê, formado onde? É isso? Se resume nisso? Se a essa altura do campeonato ainda não saiu da casca... Que escolha infeliz pra se viver! Ou tá achando que ninguém vê a tristeza nos teu olhos, quando insiste em fingir que sorri na foto?!

Adoraria botar aqui teu nome e sobrenome como fiz outra vez com outro diretor, mas não é à um nome que me dirijo, muito menos à um nome artístico, nem é essa a problemática em questão, não é a tua parte morta que me conduz, se intenciono um novo toque, nenhum mais além desse último, é em outro plano, em outro nível, mas não acontecerá porque nem desconfia, e se desconfia por já saber não carece; o pior cego não é aquele que não quer ver, é aquele que finge ser cego, "finge que não viu aquilo que viu".

Nada vai além do que digo. Impassível à interpretação.

Tuesday, February 21, 2006

Mais do que já foi dito

Ainda tenho mais uma coisa a dizer a respeito do que trago no peito,
esse assunto chamado arte se esgotou,
desconsidero-o dentro de tanta falação,
essa que se extende além do próprio pensamento,
minha ordem só habita a vírgula,
porque se me sento para escrever não é porque sei o que digo,
é porque aceito um convite à exploração do oculto,
venho em nome do não-saber,
digo e repito que não sei sobre o que digo,
nada faz sentido antes da releitura,
não consigo imaginar de onde ela vem,
os caminhos ainda não foram suficientemente percorridos,
passo pelo mesmo lugar muitas vezes antes de identificá-lo,
não deixo rastros, os cheiros são tantos, misturados se confundem,
as vozes que ouço agora falam juntas, e baixo, não colaboram,
não neste momento em que tomo as rédeas,
me interesso pelo saber de quem sou dentro dessa história,
não este em mãos, o questionador perdido nas perguntas sem respostas,
esse é quem me perturba, o homem máquina de sentidos inúteis,
uma voz manipulada por quem, por mim, quem sou eu, meu Deus,
escravo de um corpo desconhecido,
terreno inexplorado pela acomodação no prazer comum,
meus vícios me perturbam,
estou prestes a acender um cigarro, para isso terei de comprá-lo,
para mais uma vez densificar a matéria, poluí-la dos desejos escuros, os banais, e me entedio,
estou exausto, sem saber pra onde ir,
sem querer seguir, o próximo passo é o mais difícil,
requer a energia de todos os outros, os anteriores e futuros,
ou avanço ou me largo neste limbo pela eternidade,
me perco neste lugar abandonado em outro lugar,
entende, me perco em mim esquecido no mundo,
não sei mais parar e nem seguir,
e o incomodo é justamente esse,
me debato sem sair do lugar,
estou jogado no chão, afogando em rio que dá pé,
sem conseguir me levantar, onde está a ordem sobre o corpo que habito,
tantos outros defeitos, já não basta onde me danifico,
estou fora de mim,
por isso a inutilidade de todas essas coisas,
é hora voltar ao início,
e me entregar ao que tiver de ser,
saberei na hora certa sobre as coisas que me esquecem,
e não será nesse lugar onde se explica e compreende,
então aceito e silencio.

Sunday, February 19, 2006

Formando uma opinião a respeito do que trago no peito

Arte é intimo e pessoal,
mas não neste lugar mais superficial, do conhecimento,
da comunicação limitada à palavra e à expressão gestual,
a intimidade de que falo é plena num esbarrão de olhos,
fogo cruzando entre as almas buliçosas,
flexas incandecem inflamando-se na mira,
salamandra essencial, nua das formas,
acertada no meio, em cheio, o centro da íris,
e a paixão, amor em seu estado incendiário,
queima nas almas desavisadas de si mesmas em outros corpos,
carbonizando a matéria que permanece intacta,
para o delírio de alguns, e para o terror de outros,
que não sabem mais querer viver sem, nem com.
Arte só declara quem assiste, é intransferível,
o criador está morto, não existe se acredita dono,
doa a quem doer, não mesmo, mente pra si se sim,
nunca pra mim, que morro quase todos os dias, e agora mais uma vez...
e sobre os aplausos finais e os gritos ancestrais,
fantasia do teu ego que ainda precisa de confete pra fazer carnaval.
Vou continuar gritando pra quem quiser ouvir, lavo minha alma quando o fizer.
Se a carapuça serviu, sem que eu tirasse a medida do teu crânio de minhoca da terra, é pra você mesmo que digo. Sinto muito. Cuido do meu figurino, de mais ninguém.
Pensei em me reconciliar, mas não. Não te alimento vaidade inútil; isso eu faço na academia, enquanto atrofio meu corpo fraco. Está tudo acabado. Não atuo em teu nome, não me interesso pelo que sei e ponto. O de melhor em mim ainda não descobri, e se não sei mentir problema meu que não enriquecerei e nem farei novela. Mas não carrego teu carma te traidor comigo. Me recuso. Continuo por aqui, um bailarino frustrado, dançando a felicidade com a música que desaprendo ao som de violão cego dia após dia, inutilizando-me propositadamente. Alienando-me.
Digo à Deus: sou Teu Templo! Divino Eu, Superior em mim, atua sem farça, amorfo corpo nos conduz...
O resto é só uma boa desculpa, então me perdoo sempre!
Agradeço ao nome de homem que rima com alma a consideração.
E depois cuspo no chão, pra não acertar na cara.
Péssimo hábito que adquiri por não saber brigar.
Minha saliva vale muito mais que qualquer soco.
Graças à ela eu me reconciliei com a palavra.
E agora faz uso de mim, e eu deixo porque encontro sentido,
descubro um valor que já havia me esquecido, o de ser aqui agora,
e vou até o amado gaúcho que me engana e eu gosto. Chamo-o e xingo-o.
Ele eu também boto pra correr. Pra fora da minha vida, jogo imundo de carne!
Podre é meu passado, que não me condena se eu o assumo.
E o que não tem remédio eu ignoro.
Meu corpo está entregue ao teu mais ilustre habitante.
Um sonho de corbetura em Ipanema submergirá ao terceiro ou quarto toque.
Posso ser um dos anjos apocalipticos a tocar a corneta anunciadora do fim Global.
Quem aprendeu a ser honesto terá seu pedido de perdão aceito.
Sinceridade nessa hora fatal é prazo de validade. O resto é lixo orgânico.
E será que Deus recicla?

Sunday, February 12, 2006

AUGUSTO É UM ANJO


Teu olho me cura
Me flecha no peito
Cobrindo de beijos
O coração encantado
Criança mais pura
Sem sexo revela
Anjo em plenitude
Poesia na janela
Te amo de cara
Sem saber como
Em teu colo voo
Em teu colo voo

Thursday, February 09, 2006

HAMLET ESCLARECIDO

Arte é amor.
Paixão pela entrega.
Tesão na aceitação.
Não existe entre os corpos, fora de si.
É algo que nasce dentro, e se expande.
Sutil e poderosa, além matéria.
Arte não se relaciona, é interior.
Não se expressa, espelha.
Comunica nada, ilusão pura.
Ela ouve, no silêncio a verdade.
Arte só é arte se for de verdade.
Mecanismos infinitos podem ser desenvolvidos em seu nome, para que auxiliem o pobre artista em sua caminhada criativa.
Tolos homens... acreditam ser capazes de alcaçar sua supremacia, manipulando inutilmente, só em suas cabeças miúdas é que isso se concretiza, sua vontade fecunda e infinita, fazem isso em nome próprio. Assinam. Assassinos!
Formadores da mediocridade, donos da escola da burrice e da ignorância. Pobre homem que se auto-intitula artista, se soubesse alguma coisa sobre si, saberia da Arte intocável, da arte que escolhe, jamais é escolhida.
Existe sim aquelas desenvolvidas pelas mentes brilhantes. Essas eu aplaudo de pé. Mas não deixo que me toquem, não por ter escolhido assim, não condeno nem excluo, simplesmente porque não me pertencem. Aplaudo de pé e grito "Bravo"! Estarão esperando isso de mim no final.
Arte não precisa disso. Arte não é ego, nem vaidade. Arte é contemplação, consagração, comunhão. Arte é a única religião que conheço. É o mais próximo de Deus possível. Arte que se manifesta plena em toda a natureza. Todo o universo é arte pura.
E nós, os pensadores, participantes dessa ordem cósmica superior, fizemo-nos donos dessa verdade, inferiores que somos, fechamo-nos em crenças egoistas, cruéis, atômicas...
A minha autonomia eu construo abrindo mão de mim. Desconstruindo-me. Renegando tudo o que acabo de dizer, inclusive. Porque se é isso o que penso, não é a verdade. Não me iludo mais. Sei que não sou capaz de te alcançar... único pensamento criador.
E se eu, inocente, não percebo tua presença agora, manifestando-se através de mim, perdoa a falta de sensibilidade. Me embruteci com a vida, dói até agora. Mas não sofro mais, escolhi me curar. E estou em processo, procurando a porta de saída, dimensão que não me cabe, não te pertenço, me leva de volta pra casa, as pernas caminham junto dos guias, auxiliadores do espaço fora do espaço.
No meu tempo não existe tempo.
Me libertei do jugo do opressor. Entre SER ou NÃO SER, dúvida que judia e persegue até que prende e inutiliza, escolhi o óbvio, estou fora do seu cárcere: não ser!

Wednesday, February 08, 2006

CAIO SEMPRE

Essa noite dormi com Caio. Antes fizemos amor. Além do ponto. Na carta que encerra o livro mofado me achei, encontrei a permissão necessária para tocá-lo sem pudores. E então, despidos, choramos nossa vida e morte. Quis tê-lo entre os braços mais uma vez... Lamber suas lágrimas, sentir seu gosto...
Ofereci-me como portador de sua dor, já sendo, desde que o mar abriu-se nas minhas costas trazendo o vento gelado do pólo. Comuniquei-o sobre o lugar comum que nos une, como se ele já não soubesse, e então me escolhi para ser seu. Entreguei o corpo e nossas almas estiveram juntas mais uma vez, e agora para sempre, porque é assim que é, e é assim que quero ser.
Teu dono, meu homem. Teu homem, meu dono.
Caio, anjo caído, por que voastes pra longe de mim?
E agora volta, revira tudo, me acorda aos tapas... Sol quente na cara...
Trata minhas asas para que eu te acompanhe. Espanta as omoplatas e revela esse poder. De cura. Vem, me toma, me leva, faz de mim teu pouso na Terra. Confio em ti. Vomita sobre mim tuas verdades, a mais terrível delas me cheira à flor de laranjeira, tonteio, vindo de ti só encontro beleza, ainda que a tristeza se mostre cruel, sentimento que definha.
Fecunda meu pensamendo, libera meu coração pra sofrer teu pesar sem se perder. Talvez eu seja um escritor e ainda não saiba. Talvez. Mas se tudo já foi dito, pra quê?
Então casamos. Eu rasgado, você costureiro. Aliança no dedo. Sinto que é isso. Me dá a ordem... Me guia, me ensina. Culhão eu tenho, o buraco fundo também. Conheço bem. Frequentador assíduo da escuridão. Eu quero ver tudo, faz de mim foco de luz nesse pretume, holofote à caça do monstro que se esconde dentro, o iluminado esquecido de si desperta... Acordei.


Monday, February 06, 2006

O eu que quero ser...

Amor meu, criatura mais linda ainda que a própria fala, na boca a rosa perfumada, nos olhos a luz de uma estrela cadente, ágil, intensa, com seu poder de encantamento e os mistérios não desvendados, profundidade riscada veloz de um infinito à outro, tantas paralelas transpassadas, uma rede de caminhos percorridos, quanto mais sabe de si mais longe no céu alcança, quanto mais simples se mostra, derramando toda sua pureza - delicadeza de menina crescida e humildada na dor de existir entre tanta dureza, tanta pobreza d'alma, os corpos desabitados, mortos em vida - mais forte tua presença me parece... mais me eleva o teu saber.
Você, minha Rê, reflexo de tudo que considero mais bonito, você que me toca intimamente, por dentro, me reaviva, e me abraça e me beija com todo carinho que preciso, livre do desejo, inteiro na paixão. Meu encontro contigo está gravado num lugar onde não se apaga, no meu peito, o que ficou de ti em mim é o que sou de melhor e mais bonito. Você, o Eu que quero ser.
Amor eterno, Alê.