Wednesday, February 08, 2006

CAIO SEMPRE

Essa noite dormi com Caio. Antes fizemos amor. Além do ponto. Na carta que encerra o livro mofado me achei, encontrei a permissão necessária para tocá-lo sem pudores. E então, despidos, choramos nossa vida e morte. Quis tê-lo entre os braços mais uma vez... Lamber suas lágrimas, sentir seu gosto...
Ofereci-me como portador de sua dor, já sendo, desde que o mar abriu-se nas minhas costas trazendo o vento gelado do pólo. Comuniquei-o sobre o lugar comum que nos une, como se ele já não soubesse, e então me escolhi para ser seu. Entreguei o corpo e nossas almas estiveram juntas mais uma vez, e agora para sempre, porque é assim que é, e é assim que quero ser.
Teu dono, meu homem. Teu homem, meu dono.
Caio, anjo caído, por que voastes pra longe de mim?
E agora volta, revira tudo, me acorda aos tapas... Sol quente na cara...
Trata minhas asas para que eu te acompanhe. Espanta as omoplatas e revela esse poder. De cura. Vem, me toma, me leva, faz de mim teu pouso na Terra. Confio em ti. Vomita sobre mim tuas verdades, a mais terrível delas me cheira à flor de laranjeira, tonteio, vindo de ti só encontro beleza, ainda que a tristeza se mostre cruel, sentimento que definha.
Fecunda meu pensamendo, libera meu coração pra sofrer teu pesar sem se perder. Talvez eu seja um escritor e ainda não saiba. Talvez. Mas se tudo já foi dito, pra quê?
Então casamos. Eu rasgado, você costureiro. Aliança no dedo. Sinto que é isso. Me dá a ordem... Me guia, me ensina. Culhão eu tenho, o buraco fundo também. Conheço bem. Frequentador assíduo da escuridão. Eu quero ver tudo, faz de mim foco de luz nesse pretume, holofote à caça do monstro que se esconde dentro, o iluminado esquecido de si desperta... Acordei.


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