Sou Outro Você

Friday, March 31, 2006

Minhas asas de borboleta


Ontem uma fada me presenteou com asas de borboleta. Prometeu ensinar a usá-las. Vou entoar mantra enquanto voo... dançar no céu pra Deus graças à ela, minha irmãzinha mais linda encantada da floresta.
εïз

Friday, March 24, 2006

Só não quero ser só


Minha voz tem dito pouco. Já não raciocino tão bem quanto ontem. Inclusive os batimentos cardíacos, não dizem mais... nenhuma alteração, sempre estáveis. Meu coração dissimulado inventa um bem estar qualquer, de riso forçado, pra enganar a dor de quem grita até o último fio... Me castigo afónico, e morro ainda mais caminhando por sobre a Terra.
A pulsação é a ilusão de quem insiste. Eu admito a coragem... me entrego à ela, covarde que sou, me construi assim, obrigado a cair de joelhos, dois rendidos, e me alio por pura fraqueza, implorando perdão e uma nova vida.
À beira do abismo lamento a disformidade da minha face. Não há como recuperar meus desvios. Estão gravados na alma, que é celular por força maior, a da ocasião. Então me jogo de cabeça... corpo corrompendo-se enquanto aprendo a amar. E quando me acho capaz de rasantes aí é que sei bem estabacar.
Jurei pela eternidade e não sei por quem esperar, nem se ainda terei o direito de ser o amor de alguém de novo. Não um qualquer dessa vez, mas só de quem me espera... variação necessária de conduta, escolha obrigatória.
Parece-me que nessa vida eu vim aprender a fazer doce de fruta amarga. E enquanto não desenvolvo a receita exata fico com essa cara chupada de quem azeda toda reza.
A respiração falha, lembrança do suspiro final de outro nome, armazenado nessa inexplicável depressão de última hora, chegada no fim da tarde, lá pelas 18 e 30, quando o destino que escrevi deixou de se cumprir. Minha escolha já não significa há tempos, e nem sei mais por onde ir... A família que acreditava ser minha não sabe de nada, ou sabe, e nem quero eu saber... Minha consciência perambula sem rumo certo, buscando o repouso merecido de quem já não deseja tanto assim.
Só não quero ser só...

Tuesday, March 14, 2006

DUASCOISAS DISTINTAS


Esta noite eu me apaixono por um desconhecido antes de ir dormir. Enquanto o sono chega recebo a minha sentença. Te amar num sonho. Me deito na esperança de receber a projeção exata que te encontre. Lanço-me no desconhecido do teu pensamento enquanto me acho. Preciso ter certeza de quem sou nesse carnaval de botequim paulistano. Aqui não há fantasias, as máscaras todas já estão caídas, e mesmo assim não sei. Nenhum rosto que estimule lembrança qualquer, nem dela lembro mais. A única que parecia ser verdadeira, esfarelada em areia seca, virou monte de poeira. Se o que passou na rua não era eu, então quem poderia ser senão outro? Entre tantos desconhecidos você me olha, me escolhe, e me chama. Te ouço ao longe, um eco de quilômetros quinhentos de estradas, ou ar. Hipnotizado sigo tua voz num plano automático; organizado por quem? Uma mão sem corpo me convida pra dançar, sem querer ter onde apoiar. Não escolhe se te firma na minha igual ou se solta em minhas costas. Passeio extendido não mais em coreografia, o ritmo é outro. Improvisa. Intenciono um beijo na palma e ao me aproximar o sinal. Mão criminosa. Te espanto ao longe e misturo na hora a história que nunca quis. Do mal. Ela me persegue em sangue, segue por dentro, fervendo a covardia alheia. No rio vermelho comprido irriga desde a ponta ao que me escapa. O telefone toca em silêncio de quem não tem mais nada a dizer. Me deixa! Falta boca que me engane de novo. Falta dente bom que me atraia. O canino do vampiro já não seduz, hoje me interesso pelos ratos, ou bicho solto. Deixei de me curvar aos vermes humanos pra me entreter com os seres do esgoto. Qualquer um deles tem mais cartaz comigo do que os da sua laia. Cobra, lacraia! Por mais escroto que pareça fique sabendo que sou um anjo, lindo feito príncipe. E que só misturo assim, com meus iguais, povo que sabe o que significa amor. Você, pelo visto, ainda não entendeu que é coisa própria de se conjugar. Na primeira pessoa do singular é o único lugar em que pode morar o amar. Amor é próprio e ninguém mais rela a mão no meu mundo. Nem eu ouso tocar. Se perdi o início escrito lá em cima, estou prestes a encontrar. O couro falha e já não tem cabelo que nasça, desgastou de tanto assemelhar. Mas ainda tenho chance de limpar a crosta de imundice que adquiri existindo. Pra ser mais leve e puro dessa vez. Tô saindo da casca, quebrando o ovo. E em seguida morro, tanto e não me canso, te deixo um canto qualquer... de adeus.