DUASCOISAS DISTINTAS
Esta noite eu me apaixono por um desconhecido antes de ir dormir. Enquanto o sono chega recebo a minha sentença. Te amar num sonho. Me deito na esperança de receber a projeção exata que te encontre. Lanço-me no desconhecido do teu pensamento enquanto me acho. Preciso ter certeza de quem sou nesse carnaval de botequim paulistano. Aqui não há fantasias, as máscaras todas já estão caídas, e mesmo assim não sei. Nenhum rosto que estimule lembrança qualquer, nem dela lembro mais. A única que parecia ser verdadeira, esfarelada em areia seca, virou monte de poeira. Se o que passou na rua não era eu, então quem poderia ser senão outro? Entre tantos desconhecidos você me olha, me escolhe, e me chama. Te ouço ao longe, um eco de quilômetros quinhentos de estradas, ou ar. Hipnotizado sigo tua voz num plano automático; organizado por quem? Uma mão sem corpo me convida pra dançar, sem querer ter onde apoiar. Não escolhe se te firma na minha igual ou se solta em minhas costas. Passeio extendido não mais em coreografia, o ritmo é outro. Improvisa. Intenciono um beijo na palma e ao me aproximar o sinal. Mão criminosa. Te espanto ao longe e misturo na hora a história que nunca quis. Do mal. Ela me persegue em sangue, segue por dentro, fervendo a covardia alheia. No rio vermelho comprido irriga desde a ponta ao que me escapa. O telefone toca em silêncio de quem não tem mais nada a dizer. Me deixa! Falta boca que me engane de novo. Falta dente bom que me atraia. O canino do vampiro já não seduz, hoje me interesso pelos ratos, ou bicho solto. Deixei de me curvar aos vermes humanos pra me entreter com os seres do esgoto. Qualquer um deles tem mais cartaz comigo do que os da sua laia. Cobra, lacraia! Por mais escroto que pareça fique sabendo que sou um anjo, lindo feito príncipe. E que só misturo assim, com meus iguais, povo que sabe o que significa amor. Você, pelo visto, ainda não entendeu que é coisa própria de se conjugar. Na primeira pessoa do singular é o único lugar em que pode morar o amar. Amor é próprio e ninguém mais rela a mão no meu mundo. Nem eu ouso tocar. Se perdi o início escrito lá em cima, estou prestes a encontrar. O couro falha e já não tem cabelo que nasça, desgastou de tanto assemelhar. Mas ainda tenho chance de limpar a crosta de imundice que adquiri existindo. Pra ser mais leve e puro dessa vez. Tô saindo da casca, quebrando o ovo. E em seguida morro, tanto e não me canso, te deixo um canto qualquer... de adeus.
1 Comments:
Meu Deus...
queria muito entrar na sua mente ...
vc realmente não é deste mundo alê... se a Nasa te descobrir... eu te perco de vez....
beijos mil adorei, vc é excelente....
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