Saturday, June 10, 2006

Há tempos... um depoimento...


Há tempos não escrevo. Nada. Meses... dois, tres. Já nem me lembro... A fonte secou, eu disse. O conflito talvez tenha evoluido sem que eu percebesse, concluí. A compreensão, a consciência não acompanhou o movimento. Silenciou-se diante do novo, rendendo-se ao total mais uma vez... Libertei-me inocente dos gestos enganosos, os que me fazem perder. Ainda ecoando no infinito do universo dizem outras coisas, que não entendo... e se repetem enquanto desaparecem...
Em oposição à sensação de vazio que esse silêncio ocioso propõe, uma conexão finíssima se estabelece. Sim, sinto o futuro mais próximo, curto ainda, mas prevejo o que se segue, a sequência imediata, como um adivinhão. Às vezes erro, mas é mais fácil acertar. Vivo me surpreendendo com meus saberes ocultos. Nem ouso dizer muitas vezes, parece absurdo, mas sei que sempre soube, e só agora resolvi ouvir.
Vim parar em São Paulo depois de quase um ano longe dessa cidade. Ainda não saí na rua pra ver os carros, caminhar na Paulista. Pretendo fazer isso na hora do almoço. Vim me entreter com o computador antes, e tentar registrar esse momento de alguma forma.
São Paulo agora é só um lugar onde esse prédio existe, onde essa casa, esse apartamento existe, como qualquer outro lugar, não é a cidade que me diz mais, como da primeira vez, nem o trabalho, nem o teatro... Mas o que se chama amor. Vim à São Paulo por amor. Por amor à vida, por amor próprio, por amor ao próximo, amor... Um danado de um serzinho me encantou e me fez acordar às cinco da manhã no Tietê, na Rodoviária do Tietê. Nome que eu quase gosto, não me lembrasse o rio podre...
No metrô a preocupação de quem se arrisca ao se aproximar realmente de si. Vim ao meu encontro. Desço no Paraíso, baldiação necessária para chegar onde preciso. Agora tudo parece mais rápido. O tempo já não é o mesmo. Na hora da Consolação me preparo para descer. A estação seguinte me aguarda. A loucura veio comigo, na mochila, pesada, nem tanta roupa assim, mais é ousadia que trago, vontade de saber da outra parte, essa que está, de verdade, em outra pessoa.
Que tipo de curiosodade cruel, não?! Querer saber se alguém que sonhou com você, sem nem ao menos lhe conhecer, é a sua alma gêmea... Só porque ela sonhou com você sem lhe conhecer! Eu pensei que isso poderia ser uma mentira, dessas inocentes que a gente inventa pra puxar assunto, sei lá... uma boa desculpa... mas como saber que esse papo me atrairia...?!
Pois atraiu. Depois tem a estrela que me persegue, a de seis pontas... as beatices de crianças espiritualizadas, buscando... Assim como eu entendo agora o que estou fazendo aqui, olhando nesse olho, um espelho onde me vejo, e nem tento explicar porque eu não poderia com palavras, não sei, nada além de uma satisfação simples, um bem estar comum, de amanhecer mais uma vez com o céu azul, algumas nuvens gordas, brancas, limpas... Nada além disso, nenhum arrebatamento, nenhum atrevimento do meu coração... Nenhuma situação criada, inventada, nenhum desequilíbrio hormonal... Nada. Só a minha história escrita em outro ser, e a minha voz interna dizendo o inacreditável.
Te vejo em outro tempo, num espaço aberto, além matéria, onde estivemos juntos como um só. Não te vejo fora de mim, te vejo de olhos fechados. Sou eu voando solitário num céu estrelado... você comigo, você faz parte, essencial, como um encaixe... perfeito. Os corpos de agora nem sei para que servem, só penso em transcendência, evolução, pre me fundir inteiro com você, sem te machucar, sem ter que te penetrar, sem querer te engolir, sem saber o que fazer, simplesmente ser você, a parte que esqueci de mim... e viajar, no amor, ser feliz... Livre!
E sou. Eu sou. Você.

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