Wednesday, January 04, 2006

Altiva e seu cobertor de flores

Altiva, mãe do meu pai, sogra da minha mãe. Avó.
Mulher que vai morrer seu corpo logo, signo de câncer, mês depois de posar para foto.
Já está marcada a data, o encontro com a família é uma despedida.
Cheiro de comida feita no fogão à lenha... um colo tranquilo em noite de abandono.

Sono eterno na cama que era caixa, as flores cobertor.
A primeira mentira que me lembro: "Ela está dormindo."
Brinco no cemitério. Cristos e anjos guardiões...

Me vejo por dentro em uma caveira. Não me aceito tão feio!
Me olho, sei que não sou daquele jeito.
Corro entre túmulos, vazios de significados assustadores.
Solitário entre os mortos.
Sigo na direção que bem entendo, e reconheço minha gente em volta de um buraco.
Me aproximo e peço colo ao pai.
Vejo a mãe por cima, e Altiva afundar.
Parente sofre, família mente e um amor se vai.
Ninguém percebe o que acontece...
A mentira é mal que não se esquece. Eu não me esqueci.

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