Sunday, July 16, 2006

Na mão dela cabe



Mal sabe ela sobre o amor verdadeiro... sem condições... amor é perdão em essência puríssima, amor é perdão enquanto criança, e não trái ninguém além do próprio sentimento ensimesmado. Tenho a boca suja de dentes estragados, um canal aberto onde duas cáries roedoras, talvez tres, obsessoram a amigdala esquerda à distância, podre de pus, infectando a gengiva cheia de "ite"... gengivite... Com essa boca nojenta cheirando a esgoto falo do resto de inocência que me cabia, arrancado de mim naquele estacionamento, esperança preservada numa meninice caduca, morre de morte morrida, minha filha, assassinada nos braços de um abraço negro, casado de luvas e casaco combinados na mesma cor. Péssima escolha de figurino para visitar o Céu, entre as estrelas. Elas são brancas e brilham acesas... Luz divina!
Ninguém avisou àquele moço? Sem noção... aquele moço de vestido preto...
Sei do ciúme que senti, sei que não quero mais. E só. Escolha. Vim à Terra unicamente para aprender a escolher, e eu escolho não me perder de amor por mais ninguém. Pronto! Me livro da dor entupido de química grossa, da braba, 500 mg de amoxilina, por favor, enfiadas pela goela à baixo já que na veia não pode, perdi todas anteontem no inferno, eu peço o fim da claridade desse amor em noite iluminada pelo Sol nascente... Pura mentira, porque só a Lua pode visitar o dia.
Estou doente. Minha doença é mortal e contagiosa. Afaste-se. Fuja! Fuja mesmo se for capaz, de mim é possível sim, admito. Mas de si mesma...? Já não garanto tanto. Inclusive sei que não poderá escapar. Eu tentei e quase parti de vez, só o coração não resistiu. Partiu-se em infinitas partículas de moléculas, universos paralelos recriando vários outros órgãos, todos necessários ao novo corpo, entregue bem composto ao estranho visitante, ornado de cabelos pretos lisos escorridos. De longe um pequeno índio iniciante. O boneco de carne vivo, sem cocar ou machadinha, empunhava outra arma, invadiu o amor e matou Inês com treze facadas entre a nuca e as omoplatas. Ela está morta, já disse. Suas mãos pintadas de sangue ressecado escurecido, o rosto respingado, e ela escorrendo gelado por detrás, coagulando lentamente, vazia até de ar, molhando as tranças de vermelho. Estanca... os cristais nublados cobertos de pálpebras, rentes ao chão, estão perdidos dentro dela. Acrescida de terra, misturando-se, desmancha... Despede-se e retorna... ao início.
Se olha e chora arrependida, é mesmo a despedida definitiva, mas só chora se for força maior, porque mesmo não te vendo sei quando tu mentes.
É contigo agora, vá na fé!
Recupere a faca cravada em minhas costas e apunhale-se dessa vez. Procure acertar na altura do brilho enganoso da foto photoshopada... ele nunca existiu antes da sua tecnologia barata - eficiente só em luz artificial - totalmente fajuta aos meus olhos escolhidos - sei o que é e o que não é, e não me iludo mais contigo... menos, um pouco menos de ilusão pra mim. Agradecido.
Foi bom. Sim. Sempre é bom. Mesmo quando é ruim é bom. Valeu!
Mas mal sabe ela... só do mal ela sabe, criminosa que é... e eu também sou do mal, e disso ela sabe bem... por isso vem e me mata, teu igual.

Imagem refletida no espelho quebrado, reflexo aos cacos... Suicida em outro templo fora de si!